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Progresso sem ordem: O desorganizado crescimento imobiliário em Sergipe

O progresso é o caminho para o futuro, dizem os homens do poder. Um futuro de cidades grandes, urbanizadas, modernas e ricas. Em nome desse progresso, se aposta em um jogo que vale mais do que dinheiro. Um jogo que envolve vidas. A possibilidade de uma moradia fixa e financeiramente acessível leva pessoas a se instalarem em áreas pouco ou nada preparadas para a habitação, acreditando na promessa de que as vizinhanças se desenvolverão com a presença de imóveis. O pensamento que orienta os responsáveis pelos condomínios residenciais em Sergipe mais parece um eco das vozes na cabeça do fazendeiro Ray Kinsella,  personagem de Kevin Costner no filme Campo dos Sonhos: “Construa e eles virão”. Mas, na vida real, não é tão simples assim.

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Condomínio Vila Vitória é exemplo de má disposição geográfica dos conjuntos residenciais. Moradores vivem ilhados entre a avenida e a vegetação local.

No Condomínio Residencial Vila Vitória, localizado no bairro Jabotiana, próximo à Universidade Federal, essa situação é bastante explícita. Com moradores já habitando o local, o seu entorno ainda carece de comércio e serviços básicos e de condições essenciais para a qualidade de vida da população. Cercado de Mata Atlântica, não há qualquer tipo de mercado próximo ao condomínio, nem mesmo uma farmácia, tampouco um posto médico nos seus arredores. Como resolução de uma lei federal, não é permitida a comercialização de nenhum produto dentro do Vila Vitória, o que obriga os moradores a saírem de carro ou de ônibus para realizar compras simples.

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A distância de áreas comerciais e dos serviços obriga as pessoas a se deslocar de ônibus para pequenas necessidades, como comprar pão ou pagar contas.

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Mas a falta de sinalização torna até esse simples ato um perigo para os moradores.

Ônibus e carros que também representam um problema para os condôminos. Não há ponto de parada para transporte coletivo no sentido a São Cristóvão, nem faixa de pedestres para a travessia ao ponto do outro lado da pista. “Não tem uma faixa (de pedestres). Não tem um ponto adequado. O condomínio eu acho bom, tranquilo. Mas o problema é que, pra quem não tem carro e depende do transporte público, é terrível”, queixa-se a moradora Jéssica Damiana, 19 anos, estudante de Publicidade. A sinalização precária contribui com frequência para acidentes de trânsito. Há alguns meses, foram colocados quebra-molas nas duas vias para tentar evitar novos acidentes.

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Moradores penduraram uma bicicleta em um poste de energia, em reação ao atropelamento e à morte de um jovem ciclista no local.

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Após o incidente, quebra-molas foram instalados para tentar minimizar os riscos.

Mas o trânsito não é o único ponto de insalubridade para os moradores. Devido ao isolamento e ao policiamento inadequado das ruas, também são comuns queixas de roubos no local. “Apesar de ter porteiro, não tem segurança.”, comenta Greice Kelle, 22 anos, estudante de zootecnia. E nem a proximidade com o batalhão da Polícia Militar parece coibir a ação de criminosos. “Quando acontece algum incidente, chamam a polícia, mas ela não chega a tempo”, diz o morador Cristóvão Carvalho. Outros problemas incluem a presença de lixo depositado em locais não apropriados, como os terrenos baldios ao lado do condomínio, prejudicando o meio-ambiente e colocando em risco a saúde da população.

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O espaço em volta do condomínio residencial, coberto por vegetação de Mata Atântica, tornou-se ainda um depósito irregular de lixo.

Segundo a EMURB, para a construção de um condomínio residencial, são exigidos, além das plantas e da documentação de requerimento, um levantamento da localização, da topografia, da vegetação, do sistema viário e das obras de infraestrutura do local, bem como as diretrizes da SMTT para a sinalização das vias. As restrições ao uso de solo para condomínios dizem respeito apenas a imóveis localizados em áreas de interesse público para uso comunitário ou em terrenos da União, em zonas de aeroporto ou aeródromo e em áreas de interesse ambiental, sendo não edificáveis as áreas de preservação e apenas limitadas as áreas de proteção. Os únicos serviços de infraestrutura obrigatórios são as vias, a drenagem pluvial, o abastecimento de água e energia e a rede de esgoto ou sistema alternativo.

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Distante do resto da cidade e carente de áreas de lazer, o condomínio mais
restringe do que protege os seus moradores.

Essas exigências, no entanto, parecem não ser suficientes para impedir que se construa condomínios em áreas onde eles acabam “ilhados” e sujeitos aos mesmos problemas do Vila Vitória. Com os centros urbanos cada vez mais inchados e a escassez de terras para a construção de novas áreas residenciais próximas aos núcleos populacionais, a tendência é que se continue procurando locais mais distantes e apostando no desenvolvimento posterior das regiões, em vez de prepará-las para receber moradores antes de lançá-los à sua própria sorte nas novas casas. Nesse admirável mundo novo, o progresso não espera pelas pessoas, nem está preocupado com a sua qualidade de vida. Ele simplesmente avança em direção ao futuro. Mesmo que sem ordem.

Grupo: Allan Jones, Baruc, Daniel e Jamile.