Em tempos de politicamente correto, a capitalização do meio ambiente ocorre por diversas linhas, uma delas é a moda da reciclagem.
O termo traz conflitos conceituais. De fato, o que mais ocorre é o reaproveitamento por meio do artesanato. Nesse caso, a responsabilidade do processo tem recaído sobre a consciência individual e não necessariamente sobre uma compreensão mais sistêmica do fenômeno da degradação ambiental ou mesmo da superprodução de resíduos de diversas naturezas, cuja dimensão político-econômica dos Estados e Empresas esteja em foco.
Nos últimos anos, propostas bastante atraentes têm surgido, através de empreendedores que, observando o mercado construído para as questões ambientalmente corretas, criaram espaços para explorar essa vertente do que muitos classificam de capitalismo verde.
Muito se fala na preservação ambiental, mas, na maioria das vezes, é comum alimentar esse discurso esquecendo ou anulando a responsabilidade do homem nas intervenções urbanas que provocam ao meio. Desse modo, já que o bem estar está diretamente ligado às relações que o homem estabelece com o meio, o pensador Félix Guattari, no livro Três Ecologias (1999), manifesta sua indignação, afirmando que o mundo vem se deteriorando progressivamente, por conta do modo de vida humana e a sua concepção errônea de coletividade. Consequentemente provocando desequilíbrios ecológicos, onde o mau aproveitamento dos recursos naturais, acidentes químicos e nucleares têm sido cada vez mais comuns.
Por julgar importante a coletividade para o equilíbrio e bem estar do homem e do meio ambiente, Sônia Maria Azevedo Prudente, há dois anos, criou o espaço cultural “Reciclaria – Casa de Artes”, localizado na Avenida José Menezes Prudente, nº 97 (em frente ao Aeroporto Internacional de Aracaju) com a proposta de respeitar o meio-ambiente e integrar o homem com atividades que estimulam o bem-estar e o autoconhecimento. A partir de março, o espaço cultural oferecerá cursos gratuitos de reciclagem, ioga, artesanato, marcenaria, entre outros. Também ocorrerá uma vez ao mês no palco da Reciclaria apresentação de grupos musicais, teatro e outras performances. A Reciclaria ainda conta com espaço para restaurante vegetariano, que também passará a funcionar normalmente a partir do próximo mês.
Atualmente a Reciclaria comercializa móveis reciclados. Sônia defende que a maior causa do caos planetário é o sentimento de separatividade. Acredita que nada é imprestável, tudo pode ser transformado. Por conta disso, explica que material produzido na marcenaria do projeto são frutos de doações e de móveis ou madeiras encontradas no lixão. O marceneiro Israel Nascimento trabalha há oito anos nessa função, mas essa é a primeira vez que participa de um projeto sustentável, diz que hoje trabalha com prazer, pois sabe que ao transformar móveis velhos sem utilidade em novos móveis seu trabalho ganha o status de arte.
O espaço tem recebido com frequência encomendas de arquitetos renomados do estado. Sônia espera que a reciclagem não seja apenas mais uma moda na arquitetura e completa dizendo que ainda falta incentivo do governo no estado para educar a população para a importância de praticar a reciclagem e de transformar essa atitude em um hábito do cotidiano.
Texto, fotografia e edição: Carlos Alberto Alves Lima e Eudorica Luciana Almeida Leão.